HISTÓRIA DA RAÇA

HISTÓRIA DA RAÇA SINDI

                A RAÇA SINDI

           Há muita divergência quando à grafia do nome desta importante raça zebuína. Wallace, em seu clássico trabalho de 1888, usa o termo Sindi para designar a raça Vermelho do gado Lover Sindi, ao passo que o capitão R. W. Little-Wood escreveu em seu livro de uma forma um pouco mais complicada: Scindh. Os autores modernos de língua inglesa chamam a raça de Red Sindhi, expressão que veio a ser adotada pelos zootecnistas da F.A.O., Ralph Phillips e N. R. Joshi.
                No Brasil está se vulgarizando a denominação Red Sindhi, o que não nos parece muito acertado. A raça vem-se adaptando perfeitamente em nosso país, como aconteceu com as demais variedades indianas; podemos mesmo falar em naturalização desse gado, motivo pelo qual deve-se igualmente nacionalizar o seu nome, adotando a forma mais simples Sindi, e abandonando o adjetivo “vermelho”, perfeitamente dispensável.
CLASSIFICAÇÃO
De acordo com os estudos de Olver, Ware, e Phillips, revistos e completados por Joshi, e Phillips, a raça Sindi está enquadrada no Grupo III ou terceiro tipo básico de gado indiano. Dentro desse tipo a raça Gir constitui grupamento importante pela sua pureza e antiguidade, tendo exercido considerável influência sobre as demais. O gado do Grupo III é de constituição pesada, retaco, com barbela ampla e umbigo pendente, fronte acentuadamente convexa, chifres e inserção lateral ou saindo para trás, e encurvados. A pelagem predominante é a vermelha e suas variantes, amarela ou parda, sendo frequentemente os animais malhados ou pintados.
                O gado Sindi, embora represente um tronco puro, assemelha-se ao Gir do oeste da Índia, ao Sahiwal do Pundjab e ao gado vermelho do Afeganistão. Devido aos deslocamentos das tribos nômades de criadores, sofreram em algumas regiões cruzamentos com o Gir.
ORIGEM
District Kohistan in NWFP, Pakistan - July 2009
                A raça Sindi é originaria da região chamada de Kohistan, na parte norte da província de Sind, no atual Paquistão. A maioria dos autores incide em um erro quando diz ter a raça sua origem da zona de Karachi e Hyderabad. Nessas áreas e na margem esquerda do rio Hindus é encontrado grande número de animais em alta produção de leite, o que tornou a raça conhecida e apreciada, mas esses exemplares são im
portados dos distritos do Kohistan.
                                                                                        A variedade Las Belas, talvez a mais pura linhagem da raça, é encontrada no estado do mesmo nome, no Beluchistão, sendo muito semelhante ao gado vermelho do Afeganistão do qual, na opinião de Olver, deriva o Sindi. Devido, porem, a extensão territorial do rebanho Sindi, pode-se observar uma certa variedade de tipos, fora da sua zona de origem, e, por essa razão,quando se trata da escolha de reprodutores puros, há tendência de ir busca-los em Las Belas.
                Notam-se, também, muitos pontos de semelhança com o gado Sahiwal, cujas raízes estão igualmente no gado vermelho do tipo de montanha, da fronteira norte da Índia.
ÁREA GEOGRAFICA
A região do Sind começa sob o tropico de Câncer e está compreendida entre 24° e 30° de latitude norte e 65° a 70º de longitude este de Greenwich. É plana e baixa no sul, mas montanhosa no norte e a oeste, com altitudes de 900 a 1.300 metros. A zona de Kohistan se estende por grandes vales situados entre cordilheiras que se prolongam em direção norte-sul. O solo varia, predominando os pedregosos e os arenosos. As culturas dependem dos mananciais das montanhas. Estas estão geralmente desprovidas de vegetação e sua composição é em grande parte de pedra calcária. As partes dos vales não cultivadas estão cobertas de plantas herbáceas e arbustivas.
CLIMA
                O clima da região do Sindi apresenta-se semiárido, pois as precipitações anuais variam de 250 a 300 milímetros, sendo as chuvas mais frequentes entre julho e outubro e raras no inverno. A temperatura diurna não varia muito na maior parte do território, e no inverno apresenta a média de 17° a 20º C; de maio a julho varia de 31° a 33° C; máxima absoluta, 46-48°C e mínima absoluta, 1,6° e 4,5°C. Os ventos sopram geralmente do sudoeste durante os meses de abril e setembro, com uma velocidade de 43 a 54 quilômetros por hora. Nos demais meses, predominam os ventos do norte, os quais sopram com uma velocidade de 8 a 16 km/h.
VEGETAÇÃO
Cynodon dactylon (L.) Pers.
As culturas estão na dependência do solo e das facilidades de irrigação, sendo as principais o arroz, sorgo, leguminosas, trevos, trigo, linho e algodão. A palha e os talos destas plantas constituem a maior parte da alimentação do gado. Não há prados ou pastagens artificiais, mas se acham cobertas de pastos às terras não adequadas ao cultivo ou em que abundam árvores. Nas margens dos cursos d’água há bosques formados por algumas espécies de árvores utilizadas para lenha.
                Devido à escassez de chuvas e ao fato destas se concentrarem em três meses, é curto o período de crescimento das forrageiras, encontradas em pequena quantidade e unicamente de agosto a outubro. As espécies de gramíneas mais comuns são Eleusine flagellifera, Cynodon dactylon e Paspalum sanguinale. Há outras variedades de gramíneas que se tornam rapidamente duras, ásperas e lenhosas; costuma-se segar o excedente de forragens, mas elas não resultam apetecíveis nem nutritivas.
PRÁTICAS CRIATÓRIAS
A maior parte dos criadores são nômades pertencentes à tribo dos Malders, que conduzem o gado de um lugar para outro em busca de pasto. Na zona do Kohistan o gado é mantido exclusivamente em regime de pastoreio, em campos naturais ou capoeiras. Permanece, pois, a campo, sem qualquer abrigo contra as intempéries e inclemência do clima. Nas aldeias os lavradores mantêm o gado em pastos e com subprodutos e restos de colheitas. Recentemente, os grandes proprietários de terra, interessados na criação de gado, começam a cultivar espécies forrageiras, como trevo egípcio, aveia, milho, sorgo, alfafa e feijões.

Karachi - maior cidade do Paquistão
                São muitos os criadores que se tem estabelecido em Karachi, Hyderabad e arredores de outros grandes centros, devido à grande demanda de leite e vacas para o abastecimento das populações urbanas. Como as forragens são escassas, os criadores recorrem, em grande parte, aos concentrados, especialmente para as vacas em lactação. Figuram entre esses alimentos as tortas oleaginosas, cereais ou leguminosas triturados, vagens de leguminosas, farelo de trigo e favas trituradas, que são postas em maceração varias horas antes de serem administradas ao gado. A ordenha é feita duas vezes ao dia, ocasião em que são distribuídos os alimentos. Embora as vacas sejam muito dóceis e fáceis de serem ordenhadas sem a cria, não se faz a desmama precoce.
                Os proprietários do gado são muito cuidadosos na escolha de seus touros e raramente se desfazem dos realmente bons. Os bezerros machos das vacas de baixa produção são castrados quando atingem dois anos e remetidos para pastos afastados; muitas vezes são vendidos como bois de trabalho ou até para açougueiros.
EXPANSÃO
                Atualmente a raça Sindi esta bastante disseminada no Paquistão e em algumas regiões da Índia; vacas leiteiras têm sido levadas para as cidades da costa ocidental ou de Malabar, especialmente Bombaim, e até para outros Estados, como é o caso de Misore, cujo gado não satisfez, quanto à produção de leite.
                O rebanho da Fazenda Experimental de Hosur, na região de Madras é antigo e sua seleção vem se desenvolvendo satisfatoriamente. Outro plantel conhecido é o do Instituto de Agricultura de Allahabad, nas margens do Ganges. Ao norte do Pundjab, na Fazenda Experimental de Karnal, na planície do Jumna, encontra-se um bom rebanho leiteiro, alem de zebuínos das raças Tharparkar e Hariana.
                Reprodutores da raça vermelha têm sido exportados para Ceilão, Filipinas, Formosa, Indochina, Malaca, Birmânia, colônias inglesas da África e até para os Estados Unidos e Jamaica, onde se processam trabalhos de cruzamento desta raça com o gado Jersey.
                Calcula-se a existência de cerca de 250 mil cabeças, rebanho relativamente grande, se considerarmos que o número de reprodutores zebuínos registrados no Brasil, computadas todas as raças, é de umas 100 mil cabeças. Gado Sindi, mas sem dados quanto à origem, é comum nos mercados de Thano Bulakar, Mirpursakro, Tatta, Kotri, Karachi e Hyderabad e nos arredores dessas cidades paquistanesas. Reprodutores selecionados, com genealogia conhecida e controle da produção, encontram-se nas seguintes estações experimentais:
                Fazenda de Seleção de Gado Sindi, em Malir, pertencente ao Governo Federal do Paquistão;
            Fazenda de Seleção de Gado Sindi, em Mirpurkas, dependência do Governo do Estado do Sind, Paquistão;
                Fazenda Experimental de Criação de Hosur, distrito de Salem, no Estado de Andra, índia.
                Fazenda Experimental de Hissar, distrito de Delhi, no Pundjab, Índia.
                Dentre as criações particulares, destacam-se a Fazenda Patal e a Fazenda Sitari, ambas em Karachi, com rebanhos objeto de trabalhos seletivos.
O SINDI NO BRASIL
Nas regiões Norte e Oeste da Índia, de onde nos veio a maioria do gado importado e principalmente o Gir, existe também algum gado Sindi, do qual nos chegaram em diferentes ocasiões alguns exemplares, fato devidamente registrado em nossas crônicas. Acredita-se ter sido provavelmente Sindi o reprodutor recebido na Bahia, em 1850, pelo Visconde de Paraguaçu; Na falta de fêmeas do mesmo tipo, que garantissem a perpetuação da raça, é evidente que seu sangue tenha se diluído na vacada crioula.
Pouco depois, provavelmente entre 1854 e 1856, de conformidade com a carta que JOAQUIM CARLOS TRAVASSOS  dirigiu em 1906 ao Jornal dos Agricultores, entraram na Serra - Abaixo, expressão então usada para designar a Baixada fluminense, casais da variedade Sindi. O ilustre zootecnista descreve como sendo animais de pequeno porte, não excedendo 1 metro e 30 no cupim, porém reforçados, especialmente as vacas, “produtoras de excelente e abundante leite”.
TEÓFILO DE GODOY em 1903 ficou conhecendo e soube apreciar esta raça, tanto que 3 anos mais tarde estava disposto a importá-la, juntamente com a Nelore, a Guzerá e a Hissar, conforme anúncios de sua viagem. Dentre os animais importados, por Francisco Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, em 1930, foram identificados mais de um reprodutor Sindi e várias fêmeas.
O gado Sindi, da mesma forma que os Dangi e Deoni, todos pertencentes ao mesmo tipo básico indiano, deve ter sido no passado confundido com os representantes da raça Gir, motivo pelo qual não tardou a desaparecer, absorvido pela população mais numerosa. Vinte e dois anos depois dos Sindi de Lemos e Prata, chegaram os animais para o Instituto Agronômico do Norte. Os que tiveram oportunidade de vê-los, em Belterra ou na Água Branca, compreendem perfeitamente a razão pela quais os primeiros Sindi desapareceram, confundidos e misturados com os mestiços da raça Kathiawar.
O PLANTEL DE BELTERRA
Em meados de 1952, a opinião pública e principalmente os círculos pecuaristas, foram surpreendidos pela notícia de que era iminente uma nova importação de gado Zebu, diretamente da Índia. Eram decorridos mais de 22 anos sem que o Brasil recebesse daquele país asiático um único reprodutor, encerrado que estava o ciclo das importações, como consequência da peste bovina em São Paulo, no ano de 1921.
Já relatamos que, proibidas as importações, somente em 1930 Manoel Prata e Ravísio Lemos conseguiram licença, em caráter excepcional, para a introdução de quase duas centenas de Zebuínos. Diversas circunstâncias concorreram para que cessassem, definitivamente, as compras no Oriente e para que nossos criadores e negociantes não mais se sentissem animados a ir buscar o boi de cupim.
O adiantamento da criação de Zebu, resultado de muitos decênios de trabalhos de melhoramento, que deram ao nosso gado características próprias, além de outras imprimidas pelas condições do meio, desaconselhavam novas introduções de reprodutores indianos das raças que vínhamos criando. Ainda mais, medidas de ordem sanitária, entre elas a lei N°. 4.398, impediam qualquer iniciativa nesse sentido.
Periodicamente, em reuniões de criadores e nos meios técnicos aventa-se a questão da importação, principalmente das variedades tidas como leiteiras. Essa medida, entretanto, encontrava a mais viva oposição dos zebuístas, atitude ditada mais pelo receio de concorrência do que pela possibilidade de introdução de moléstias endêmicas nas Índias e desconhecidas em nosso meio. Esqueciam-se, ou não queriam reconhecer que este risco poderia ser anulado com os recursos que a medicina veterinária põe à disposição dos serviços técnicos de defesa sanitária animal.
As exposições de gado da Índia, a criação dos herd-books e a organização dos serviços de registro de controle leiteiro para diversas raças, além do trabalho das estações experimentais indianas, começavam a revelar as possibilidades do Bos Indicus na produção de leite, despertando a atenção dos estudiosos, principalmente os das regiões em que o clima impõe limitações à exploração de bovinos das raças europeias aperfeiçoadas. Há alguns anos atrás, o Departamento da Produção Animal de São Paulo, efetuou démarches junto ao Ministério da Agricultura, visando obter licença para importar Zebu leiteiro, não sendo bem sucedido, porquanto encontrou oposição ao projeto.
PLANOS PARA A AMAZÔNIA
O Agrônomo Felisberto de Camargo, quando diretor do Instituto Agronômico do Norte, situado no Pará, vinha procurando solucionar a questão da produção de carne e leite para as populações da Amazônia; o clima da região, excessivamente quente e úmido, impossibilitava a expansão dos bovinos europeus das raças aperfeiçoadas. Técnico capaz verificou que somente poderia resolver o problema da carne com base nos tipos bovinos que a natureza proporciona às regiões tropicais. Deu início então à formação de grandes rebanhos de gado indiano, especialmente da raça Nelore, e de búfalos oriundos da ilha de Marajó. Se com essas medidas tornava-se possível resolver o problema da carne, persistiam as dificuldades para a obtenção de leite abundante e a baixo custo.
Ilha de Marajó
Em 18 de maio de 1948 o Diretor do Instituto Agronômico apresentou à comissão executiva do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica um trabalho intitulado “Sugestões para o Soerguimento Econômico do Vale Amazônico”, O plano, na parte referente à pecuária poderia ser resumido em dois itens.
1 — Importação e introdução na Amazônia de raças Zebuínas leiteiras, cuidando-se de sua seleção e melhoramento, mediante a organização de serviço de controle leiteiro. Projetou-se também a formação de novas raças para a região equatorial, cruzando-Se reprodutores das raças Zebuínas com vacas Jersey puras.
2 — Importação de búfalos leiteiros das raças Murrah, Ravi ou Nii, para cruzamento com o búfalo amazônico. Esta medida não chegou a ser efetivada.
A IMPORTAÇÃO DE 1952
O programa de trabalho teve a aprovação do Ministro Daniel de Carvalho e as medidas preliminares se processaram pelo espaço de quase quatro anos. Inicialmente cuidou-se de obter a aprovação das autoridades sanitárias, que estabeleceram recomendações rigorosas, visando evitar a introdução de moléstias inexistentes na América, principalmente a rinder-pest. O Diretor da Defesa Sanitária Animal, consultado, estabeleceu normas para a quarentena que deveria ser feita em Belterra, na Fordlândia tendo o Instituto Agronômico se apressado a cumprir as determinações, no tocante à construção do lazareto quarentenário que ficou pronto a tempo de receber o lote importado.
Sahiwal
Cumpridas as formalidades, satisfeitas todas as exigências da burocracia, tomadas as providências que se impunham para a compra do gado, Dr. Felisberto de Camargo seguiu para o Paquistão. Durante meses percorreram as zonas de criação, especialmente aquelas em que predominam o gado Sindi, o Sahiwal e o Tharparkar, estudando esses tipos Zebuínos, comparando os rebanhos e analisando os registros de produção.
É interessante conhecer as razões pelas qual o diretor do I.A.N. deu preferência à Sindi, em vez da Sahiwal ou da Tharparkar, raças que gozam de fama como produtoras de leite. Para isso, julgamos conveniente transcrever sua própria informação:
Tharparkar
“Entre as raças bovinas asiáticas, a Sindi foi escolhida por ser a mais pura de todas as raças existentes no Oriente. Representa a última palavra, a raça mais fina, a casta mais nobre de todas as castas de gado introduzidas e disseminadas através do Paquistão e da Índia, pelos primeiros criadores de gado que a história revela. A raça Sindi e a Guzerá são, aliás, as duas raças introduzidas pelos arianos no vale do rio Híndus, três mil anos antes de Cristo, conforme se pode verificar examinando os selos encontrados nas ruínas da cidade de Mohenjo-Daro, três vezes soterrada. O Guzerá de chifres alirados foi o tipo que se tornou sagrado em toda a Índia. O Sindi é um gado de chifres pequenos. Fruto de milhares de anos, fruto do trabalho de uma das mais velhas civilizações do mundo. a raça Zebu leiteira mais nobre entre todas as raças bovinas leiteiras que se criaram nas terras da Ásia, através de cinco mil anos. O Sindi, ou gado vermelho do Sind, é o gado nacional do Paquistão, conservado em estado de relativa pureza, graças à situação de isolamento criada pelos desertos que rodeiam o centro de criação desse rebanho. Com referência às raças Sahiwal e Tharparkar, tenho a dizer que a primeira não é raça pura e que a segunda é ótima. Tharparkar é sinônimo de “gado branco do Sindi”, região que percorri durante 90 dias. É um excelente gado extraordinariamente rústico, criado em condições de uma pobreza incrível de pastagens. Tharparkar é um Guzerá de chifres pequenos”.
Ruínas da cidade de Mohenjo-Daro
Enquanto o Dr. Camargo mantinha contatos com as autoridades federais do Paquistão e do Estado do Sind, buscando de todas as formas facilidades para o melhor desempenho de sua missão, ocorreram modificações nos altos postos do Ministério da Agricultura, o que se refletiu na sua atitude quanto à importação. Decidiu-se sustar a aquisição de gado indiano e o diretor do Departamento Nacional da Produção Animal expediu, em data de 12 de setembro de 1952, um telegrama ao técnico do I.A.N. nos seguintes termos:
                “Autorizado pelo Ministério comunico-vos que opinei contrariamente à importação de reprodutores asiáticos”. Outro, de 1 de Outubro, enviado pelo chefe do gabinete do Ministério da Agricultura, dizia: “De ordem do Ministério comunico não deveis adquirir e embarcar qualquer gado”. E, finalmente, o terceiro telegrama, agora assinado pelo próprio ministro João Cleofas, enviado dia 18, esclarecia: “Tendo em vista parecer do Departamento Nacional de Produção Animal, contrário à aquisição de reprodutores asiáticos, determino suspensão da compra de animais dessa origem. O crédito disponível será transferido para a importação de reprodutores europeus, de acordo com plano que foi traçado para a Amazônia”.
D. Felisberto de Camargo e uma das vacas importadas em 1952.
Como disse Felisberto de Camargo, “em consequência do receio de uns, da falta de compreensão de outros e da fraqueza de terceiros, nem mesmo o transporte de animais já adquiridos e pagos me era permitido realizar”. Era o resultado de uma intensa luta de bastidores, estimulada pelos interessados na não importação de gado Zebu e apoiada pelos inimigos do boi de cupim.
Todo o esforço, todo o trabalho para importação do plantel Sindi destinado à Amazônia devia ser sacrificado. Mas, naquela ocasião não havia mais possibilidade de se suspender a importação sem a perda total da verba destinada a esse fim, uma vez que todas as despesas estavam pagas adiantadamente, sem prejuízo para o conceito que as autoridades do Paquistão faziam com relação ao nosso governo.
No auge da campanha contra a importação, foi sustada a terceira remessa de numerário para atender às despesas de compra e transporte de animais. Felizmente, esses incidentes haviam sido previstos; ao passar por Londres, a caminho do Oriente, Camargo contratou o avião para duas viagens, em vez de três, e computou em moeda brasileira o pagamento da gasolina em Natal, nas viagens de regresso, determinando a ida de um emissário de Belém para aquela cidade, a fim de proceder a esse pagamento.
Como vemos somente a extraordinária pertinácia do técnico federal evitou o malogro da importação da notável raça indiana, pois, a despeito das ordens em contrário, cuidou de completar as negociações, efetivou as compras e providenciou o transporte para o Brasil. O Ministério da Agricultura teve que aceitar o fato consumado e tratou de encontrar uma fórmula conciliatória. Assim, os animais seriam desembarcados não em Belterra, como estava previsto, mas na ilha de Fernando de Noronha, preparada às pressas, onde ficariam de quarentena por quinze meses, sob a responsabilidade do Departamento Nacional da Produção Animal.
Cena da importação de 1952
Três anos mais tarde, em 1955, o ministro Costa Porto baixou portaria fazendo citação especial ao autor do empreendiment destacando na pessoa do antigo diretor do Instituto Agronômico do Norte “O elevado sentimento patriótico a grande dedicação e o alto amor à causa pública demonstrado no desempenho da missão que lhe foi confiada pelo governo brasileiro”. Assinalou o “Sadio desprendimento e a elevação de espírito com que arrostou sacrifícios materiais e pessoais e com que suportou até mesmo injúrias morais para que não fracassasse sua missão e seu ideal”.
OS ANIMAIS ADQUIRIDOS
O plantel de gado Sindi adquirido no Paquistão compunha-se de 31 cabeças, entre machos e fêmeas. Um lote de seis animais — três casais — foi obtido em dois estabelecimentos oficiais, a saber: Fazenda de Seleção de Gado Sindi (Central Governmeflt Red Sindhi Cattle Breeding Farm), em Malir, pertencente ao Governo Federal e na Fazenda de Seleção de Gado Sindi (Governmeflt of Sind Red Sindhi Farm), repartição do Estado do Sindi, localizada em Mirpurkas. Os restantes, em número de 25 exemplares, são produtos de criações particulares da Patel Farm e da Sitari Farm. São todos animais de perfeita caracterização os touros pertencem às melhores linhagens leiteiras daquele país. A eles foram dados em Fernando de Noronha, para efeito de identificação, os prefixos RS.1, RS.2 e RS.3 e os nomes Abu-Khafl, Gengis-KhaIl e Nur-Khan, respectivamente. As fêmeas receberam igualmente os prefixos RS e o número de ordem correspondente eram 10 vacas e 15 novilhas.

Cena da importação de 1952
Felisberto de Camargo resolveu adquirir às suas expensas e com parte dos dólares que recebeu como bolsa concedida pela Fundação Rockefeller para realização dessa viagem, três novilhas recém da Paak Livestock Agency, para oferecê-las à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, de Piracicaba, onde se formou, ficando desse modo completada a carga do avião na segunda viagem.
Informou-nos o importador que a aquisição desse gado que, se for convenientemente aproveitado, poderá ter marcado influencia em nossa pecuária zebuína, custou soma relativamente modesta: Cr$ 1.641.336,00 que devem ser acrescidos de mais Cr$ 120.000,00 de seus recursos pessoais. Nessas condições, verifica-se que o preço médio dos Sindi foi de menos de 60 mil cruzeiros, por cabeça, valor bastante modesto se comparado dos negócios correntes de reprodutores Zebus puros.
A VIAGEM
Cena da importação de 1952
Antigamente era no bojo das caravelas que nos vinham alguns reprodutores Zebus; mais tarde, após muitas semanas de viagem, dando voltas pelo Mediterrâneo ou singrando a imensidão do Pacífico, chegavam lerdos cargueiros com levas e mais levas do boi sagrado dos indianos. Mas desta vez, acompanhando a tendência da época, os Sindi vieram por via aérea. O transporte foi feito pela Eagle Aviation Lted, companhia inglesa com sede em Londres; o avião escalou em Aden, no golfo pérsico, em Khartoum, no Sudão, em Kano, na Nigéria, em Dakar, no Senegal, descendo finalmente na ilha Fernando de Noronha; para reabastecimento, voou até Natal. Efetuou duas viagens; a primeira leva constituída de 16 cabeças, desembarcou no dia 14 e a segunda, em que vieram 12 fêmeas e os 3 machos, em 28 de outubro de 1952, datas que passaram a fazer parte da história do Zebu no Brasil.
Camargo viajou com seus animais na qualidade de cattle atendant, o que em bom português quer dizer “tratador”. Na primeira viagem, ao aterrar, o importador foi avisado de que “por ordem superior estava impedido de desembarcar, pois poderia ser portador do vírus da peste bovina”. Duas noites e um dia permaneceu nesta situação, até que foi recebida ordem do Ministério da Aeronáutica para abastecer o avião em Natal, de onde voltou à Ásia, a fim de trazer o segundo lote.O

Cena da importação de 1952
A QUARENTENA
Apesar dos cuidados de que gado importado foi alvo em seu país de origem, tendo o veterinário inglês Daubney confirmado o perfeito estado sanitário do rebanho, o Ministério da Agricultura julgou conveniente mantê-lo em regime de quarentena pelo espaço de 15 meses. Um atestado fornecido pela embaixada americana em Karachi informava terem sidos os animais adquiridos nas fazendas de Malir, Mirpurkas, Sitari e Patel, onde nos dez últimos anos não se verificaram casos de peste bovina, e que 08 mesmos haviam sido imunizados contra essa terrível zoonose pelo Dr. Mohey Deen, chefe do Serviço de Veterinária do Estado do Sind.
Uma antiga cocheira existente em Fernando de Noronha foi preparada às pressas para o período de quarentena, decorridos ano e meio de isolamento na ilha, onde o gado foi submetido periodicamente a provas sorológicas que demonstraram a sua perfeita sanidade e como medidas complementares, tendo sido procedida a imunização contra a tristeza bovina e vacinações contra a aftosa e brucelose nada havendo a temer quanto ocorrência de moléstias desconhecidas em nosso país, e em face das informações prestadas ao Ministério, o Presidente da República determinou a restituição do rebanho ao Instituto Agronômico do Norte. Eram quase 50 cabeças, com as nascidas no quarentenário, que foram embarcadas em navio que as conduziu a Belterra, nas margens do Tapajós, no Estado do Pará.
Era o epílogo de mais uma luta travada para a introdução do Zebu no Brasil. E o paulista Felisberto de Camargo, conseguindo trazer os bois do Sind, reeditou as proezas dos uberabenses do passado.
O PLANTEL DE PIRACICABA
                O gesto edificante de Felisberto de Camargo, comprando às suas expensas um terno de novilhas Sindi, permitiu a formação de um núcleo de gado puro na Escola de Piracicaba, pois não foi difícil a obtenção de um touro do Ministério, pedido por intermédio do governo do Estado. Pouco depois da liberação do gado, o Instituto Agronômico do Norte despachou para o Rio de Janeiro, a bordo do vapor Parnaíba, o lote constituído do touro Salar II e três fêmeas: RS.12; RS.22 e RS.28. A primeira vinha com um bezerro já desmamado, registrado sob o nome de Colorado.
                Desembarcados no Rio de Janeiro, vieram para São Paulo pela Central do Brasil, aqui chegando no dia 10 de janeiro de 1955. Cinco dias mais tarde, a reprodutora RS.12 deu o seu segundo bezerro, que foi por nos inscrito sob n.° 692, a folhas 292 do livro de registro provisório de animais importados. Entretanto essa fêmea, talvez a melhor do lote, morreu 16 dias mais tarde, já em Piracicaba.
                Reduzido a um touro, duas vacas, um garrote e um bezerro órfão, o plantel cresceu lentamente, e os primeiros produtos nascidos em Piracicaba foram do sexo masculino. A reprodutora RS.22 revelou-se boa leiteira, ao contrario da RS.28, que em suas três lactações produziu pouco leite, em desacordo coma fama da raça. A medida que novas fêmeas forem atingindo idade para a reprodução e dando crias, a Escola terá mais material para estudo e para a seleção, tendo em vista a aptidão lactífera. Algumas observações quanto ao comportamento dos fundadores do plantel figuram em outra parte deste capítulo.
                É evidente que, por enquanto, ainda é cedo para se tirar conclusões sobre o valor dos animais importados e suas possibilidades em nossa pecuária.
O REBANHO DE NOVO HORIZONTE
                A importação efetuada em 1952 para o Instituto Agronômico do Norte, despertou interesse pela raça tida por muitos autores como uma das melhores variedades leiteiras da região da Índia, que constitui hoje a República do Paquistão. Assistindo na Água Branca a exibição de um filme sobre viagem de estudos e observações a terra de Gandi, um dos criadores presentes, o Sr. José Cezário de Castilho, verificou a semelhança entre os animais apresentados como pertencentes a raça peculiar ao Estado do Sind e outros que possui  em sua fazenda no município paulista de Novo Horizonte.
                Pouco depois solicitou o exame de seu rebanho, tendo em vista a identidade dos tipos e características existente. Uma comissão de zootecnistas do Departamento de Produção Animal dirigiu-se a Fazenda Tabaju e dessa inspeção resultou a confirmação da existência, no Estado, de um plantel de sangue predominantemente Sindi, fato até então completamente ignorado.
                Os animais descendiam de um garrote e algumas fêmeas trazidas na famosa importação de 1930, realizada por Francisco Ravisio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, e adquiridos pelo Sr. João Pereira Lima, criador no município de Jardinópolis, próximo a Ribeirão Preto. Acreditando que se tratasse de indivíduos sem raça definida, vendeu-os alguns anos mais tarde. Levados para a fazenda da araraquarense, multiplicaram-se naturalmente e permaneceram por longo tempo completamente isolados, fato que em janeiro de 1959 havia na fazenda de Nova Odessa 74 anirecente descoberta. Os técnicos paulistas chegaram a ver o velho touro, então com cerca de 25 anos de idade e já inútil para a reprodução, mas cuja longa existência garantiu uma certa uniformidade do rebanho e razoável caracterização dentro do padrão racial. Acreditamos que fosse ele, provavelmente, do ponto de vista étnico, o melhor do grupo, ou seja, superior às fêmeas que o acompanharam.
Transferência para Nova Odessa
                O Departamento de Produção Animal e o criador José Cezário de Castilho entraram em acordo, a fim de organizarem uma criação em regime de parceria. Na fazenda de Novo Horizonte, o rebanho de cerca de uma centena de cabeças, foram escolhidos 30 reprodutoras que pelo seu tipo e caracterização melhor se enquadravam no padrão da raça Sindi. Após os exames de soro-aglutinação para diagnostico da brucelose e da prova de tuberculina, as fêmeas foram transferidas em 19 de outubro de 1956 para a Fazenda de Seleção de Gado Nacional, em Nova Odessa, onde passaram a ser padreados pelo touro Colorado, trazido de Sertãozinho onde estava servindo para cruzamentos. Pelo convenio firmado entre as partes, ficou estabelecido que dos animais nascidos nos primeiros 9 meses, 25% caberiam ao Estado, e que os nascidos depois desse prazo, portanto filhos do reprodutor puro do Governo, tanto machos como fêmeas, fossem repartidos na base de 50% para o criador e outro tanto para o D.P.A.. Decorridos alguns anos, o rebanho voltara para a fazenda particular.
                Em janeiro de 1959 havia na fazenda de Nova Odessa 74 animais de sangue Sindi, assim distribuídos: 1 touro, 28 vacas, 12 garrotes, 17 novilhas e 6 bezerros. Grandes partes das fêmeas encontrava-se em gestação, fazendo prever elevado índice de nascimentos.
                É curioso observar que a vitória do gado Zebu é tão completa que as circunstancias levaram-no a penetrar até no velho e famoso “santuário” do gado nacional, a tradicional fazenda de Nova Odessa, onde desde 1908 se trabalha no melhoramento das raças crioulas.
                Regime de criação
A Seção de Zootecnia de Bovinos das Raças Leiteiras do D.P.A. estabeleceu normas para o manejo do rebanho Sindi, tendo em vista a seleção leiteira. O rebanho é mantido em regime de pasto, com ração suplementar em piquetes, sendo manuseado e diariamente recolhido ao curral, para conservar a mansidão.
                Reprodutoras – Dois meses antes do parto as fêmeas são recolhidas, passando ao regime de meia estabulação e a serem submetidas ao trato de raspadeira, escova e massagem do úbere, visando com isso amansa-las e prepara-las para a ordenha futura.
                Adotando-se o sistema de duas ordenhas diárias, durante as quais se faz a distribuição da ração. O leite é pesado e os resultados são registrados em agenda; o esgotamento total dos quatro tetos só se faz completamente nos dias de controle, uma vez ao mês, ocasião em que se determina a porcentagem de matéria gorda.
                Bezerros – Os produtos novos são mantidos apartados das mães, sendo levados a elas no momento das mamadas e ordenha. São deixados um ou dois tetos para o bezerro, alternados diariamente; os outros são ordenhados a fundo. Mensalmente procede-se a pesagem dos bezerros, que é anotada nas respectivas fichas zootécnicas.
                 Reprodução – As novilhas são cobertas a partir dos 30 meses, ou antes, se seu desenvolvimento for considerado satisfatório. As vacas somente são padreadas após o segundo mês do parto, mas a ocorrência do cio antes desse prazo é anotado.
                Esse programa de trabalho revela a confiança nas possibilidades da participação dos Bos Indicus na produção de leite em regiões em que as raças européias especializadas não encontram ambiente favorável a sua adaptação e onde sua exploração não pode ser feita em base econômica. É um trabalho paralelo ao que se desenvolve em Piracicaba, na Escola Superior de Agricultura, com o gado Sindi da importação do Instituto Agronômico do Norte.
                Graças ao espírito de colaboração do criador e ao empenho dos técnicos paulistas, encontrou-se uma fórmula de que resultou a recuperação de um rebanho predominantemente Sindi, pela utilização de um touro puro de alta classe, filho de importados e de origem leiteira, beneficiando assim o lote necessitado de refrescamento de sangue. Por outro lado, está permitindo ao Departamento da Produção Animal formar o seu próprio plantel, sem os grandes dispêndios que representaria uma importação.
                É curioso observar que São Paulo, outrora tão contrario ao gado originário da Índia, caminha rapidamente para conquistar a hegemonia nesse setor da pecuária brasileira, graças a atividade de seus órgãos técnicos, aos esforços de seus zootecnistas e a cooperação de criadores particulares.
CARACTERISTICAS DA RAÇA SINDI
                Os animais da raça Sindi são em geral pequenos, de bela aparência, adequados para regiões de poucos recursos alimentares, onde seria difícil a manutenção de animais de grande porte.
                A cabeça é pequena e bem proporcionada, de perfil convexo, as vezes com protuberância que parece resultante de infusão de sangue Gir. Os chifres são grossos na base crescem para os lados, encurvando-se para cima. As orelhas tem tamanho médio e são caídas, com 25 a 30 centímetros de comprimento e 15 de largura; Adaptam-se facilmente a diferentes condições de clima e solo. São compactos, tendo os quartos traseiros arredondados e caídos.
                O pescoço é curto e forte, mas delicado nas fêmeas; barbela de tamanho médio, mas desenvolvida, no macho, que tem a bainha pendulosa. O cupim é médio e pequeno nas fêmeas e relativamente grande nos machos, apresentando-se firme e bem colocado sobre a cernelha.
                A pelagem é vermelha, variando do mais escuro ao amarelo-alaranjado; observam-se, às vezes, pintas brancas na barbela, na testa e no ventre, mas não tem manchas grandes. Os touros têm as espáduas e coxas em tonalidades mais escuras. Ao redor do focinho, no úbere, no períneo, e ao redor das quartelas a pelagem apresenta tonalidades mais claras. Nesta raça o branco é recessivo, aparecendo ocasionalmente, mesmo nos rebanhos puros, mas não é apreciado. A pele, levemente solta, é recoberta de pelos finos, macios e luzidios, a pigmentação da pele e das mucosas é escura. As unhas são fortes, compactas e de cor escura. A cauda é fina, longa, terminada por vassoura abundante, de cor escura ou negra.
                O tronco é profundo, compacto, porem longo e tendendo para o cilíndrico; linha dorso-lombar reta e quase horizontal; dorso e lombo bem musculados, garupa arredondada, mas inclinada. O úbere é volumoso, com tendência e se tornar pendente; tetos muitas vezes grossos.
                Os membros são curtos, finos, de ossatura delicada, bem feitos e corretamente aprumados; as articulações são pouco volumosas.
Período de gestação
                Littlewood, zootecnista inglês, conhecido pelos seus estudos sobre o gado da Índia Meridional, analisou em 1936 o peso ao nascer e o período de gestação em rebanhos das raças Ongole, Kangayam e Sindi. Diz ele que os criadores indianos calculam o período de gestação da vaca em 285 dias; caso se estenda por mais alguns dias, é sinal de que o bezerro será provavelmente macho. Procurando interpretar os dados disponíveis da Fazenda Experimental de Criação de Hosur, encontrou os seguintes resultados:
Raça
N° de registro
Machos dias
Fêmeas dias
Diferença dias
Sindi
277
286,3
284,5
1,8
Ongole
477
289,8
288,5
1,3
Kangayam
531
286,6
284,1
2,5

                 Conclui-se ser o período de prenhes realmente mais longos para as parições de que resultaram machos.
                A média da duração do período de gestação varia conforme a raça e outros fatores. Técnicos indianos estudando milhares de gestações nos rebanhos zebuínos encontraram as seguintes durações: Sindi, 283,9 dias; Gir 285,4; Sahiwal, 285,9; Tharparkar, 287,9 dias. As diferenças são pequenas dentro desse grupo de raças.
                A analise de 858 parições registradas na Fazenda Experimental de Malir, no Paquistão, revelou que 53,4 por cento dos bezerros eram machos e 46,6 por cento eram do sexo feminino. O estudo revelou uma tendência para os partos se verificarem no período compreendido entre agosto e dezembro (No Brasil seria então de janeiro a julho).
Peso ao nascer
                Segundo os autores indianos, os bezerros machos Sindi nascem pesando de 19 a 22 quilos e as fêmeas de 17 a 20 Kg.
                Littlewood analisando os pesos ao nascer de bezerros dos rebanhos das Fazendas Experimentais de Chintaladevi e Hosur, num período de 11 anos, encontrou os seguintes resultados:
PESOS AO NASCER (KG)
Raça
N° de registros
Machos
Fêmeas
Diferenças entre M. e F.
N°.
Peso
Nº.
Peso
Sindi
277
137
20,3
140
19,6
1,3
Ongole
248
120
28,1
128
25,2
2,9
Kangayam
531
257
20,2
274
18,7
1,5

                Os bezerros Sindi eram nascidos na Fazenda de Hosur, região de Madras, em zona de terras vermelhas, consideradas pobres; esse estabelecimento pertence ao Governo da Índia.
                Em visita a Seção de Zootecnia da Escola de Piracicaba, tivemos o cuidado de anotar os pesos dos 5 primeiros bezerros Sindi puros alí nascidos: 24,5 quilos, 20,0; 20,0; 22,0 e 18 kg, dando a média de 20,9 Kg. As quatro fêmeas do estabelecimento nasceram pesando 22,0 quilos; 20,0; 26,0 e 20,0, dando a média de 22 kg. Esses valores estão bem próximos dos encontrados pelo pesquisador inglês e do padrão da raça.
Desenvolvimento ponderal
                Não dispomos de dados sobre o desenvolvimento ponderal de animais da raça Sindi, em seu país de origem. Os padrões indianos se limitam a indicar os pesos por ocasião do nascimento e aos 12, 24 e 30 meses para as fêmeas, omitindo os valores nas idades intermediarias; os pesos dos adultos, machos e fêmeas, são mencionados.
PESOS EM VARIAS IDADES (KG)
Idades
Machos
Fêmeas
Ao nascer
19 a 22
17 a 20
Aos 12 meses
-
150 a 160
Aos 24 meses
-
230 a 250
Aos 36 meses
-
290 a 300
Animais adultos
430 a 460
300 a 350

                São os Sindi animais de pequeno porte, com altura média de 1,25 a 1,35 m tomada atrás do cupim, para os machos e de 1,15 a 1,20 m para as fêmeas. Trata-se, portanto, de animais fáceis de serem criados e mantidos, próprios para regiões de poucos recursos alimentares, suportando bem as variações de clima e solo.
                Em meio melhor apresentam desenvolvimento mais rápido e atingem pesos mais elevados, conforme se depreende do exame dos registros de animais do plantel de Piracicaba.
                Os garrotes Sindi estão aptos a padrear entre os 3 anos e 3 anos e meio, embora quando bem alimentados e desenvolvidos comecem a faze-lo mais cedo, ao redor dos 2 anos ou pouco mais. Os touros tendem a ser empregados na reprodução de 6 a 10 anos. Observa-se que costuma ser um pouco lentos na cobertura, fato que vimos confirmados em nosso meio; Salar II, importado e Colorado, nascido em Fernando de Noronha, revelaram essa característica, chegando o primeiro a ser mesmo considerado um pouco “frio”.
Observações no plantel de Piracicaba
                Na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” anotamos alguns dados referentes ao exemplares da raça Sindi, que devemos à gentileza dos professores Walter Ramos Jardim, catedrático de Zootecnia e Aristeu Mendes Peixoto, livre docente da 5ª cadeira. Seu maior valor reside no fato de terem sido os primeiros elementos informativos obtidos no Brasil e são aqui incluídos a titulo de curiosidade, pois o reduzido número de animais controlados não permite serem os resultados considerados representativos na raça.
DESENVOLVIMENTO PONDERAL (KG)
MACHOS
Nomes
Centenario RS.100
Símbolo RS.103
Sol RS.104
Tolu RS.105
Urano RS.106
Médias
Nascimento
15-1-55
5-5-56
30-6-56
31-3-57
13-2-57
Ao nascer
24,5
20,0
20,0
22,0
18,0
20,9
Aos 6 meses
72
98
122
85
95
94,4
9 meses
124
130
180
140
-
143,5
12 meses
200
175
216
220
222
206,6
18 meses
270
240
290
300
285
271,6
24 meses
368
300
380
360
-
352,0
30 meses
420
320
-
-
-
-
36 meses
490
-
-
-
-
-
42 meses
520
-
-
-
-
-
48 meses
570
-
-
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